domingo, novembro 27, 2005

Dançar

O copo está meio quando me tocas na mão para irmos dançar.
Apesar do barulho, apesar das pessoas, sabes que música será.
Sabes sempre.
Não sei como mas sabes.
Agarras-me a mão assim que me levanto e puxas-me para o meio da pista, longe da luz e de todo o resto do universo.
Pões os teus pés em cima dos meus, abraço-te suavemente para te proteger do mundo e dos olhares e porque gostas.
Anichas-te nos meus braços, a tua respiração quente a queimar-me o pescoço de desejo apesar do bar estar abafado.
A música começa e tu sorris, aquele sorriso que só eu vejo.
Dançamos.
Os teus lábios de sabor a licôr beijam os meus, tens a mão pousada no meu peito para sentir aquele sobressalto que o meu coração dá sempre que os nossos lábios se tocam, o teu corpo estremece quando a minha mão viaja pelas tuas costas, a música faz-nos derreter nos braços um do outro.
A música parou, outra música começou.
Ninguém percebeu.
Ninguém viu o universo a parar enquanto pairavas nos meus braços e eramos um.
Um coração, uma respiração, um beijo.
A dançar.



quinta-feira, novembro 17, 2005

Vou

Vou perseguir-te por todos os recantos de mim,
e apagar todos os fogos que deixaste.

Vou plantar nova vida neste mar de cinzas que ficou,
e lavar com lágrimas o teu sabor da minha boca.

Vou apagar todas as recordações de todos os momentos,
até não seres mais que um nevoeiro soprado pelo vento.

Vou finalmente olhar para dentro de mim, limpo de ti,
e sentar-me, e chorar, enquanto olho o vazio que ficou.

Dei-to

Dei-te...
Sei lá o que te dei...
Dei-me?
Seja o que fôr
perdi...
Não o encontro,
nem posso dar mais.
Se calhar nunca tive,
se calhar levaste contigo.

Dei-te...
E já não volta.
Passo a mão pelo cabelo,
fecho os olhos, imagino...
tento lembrar-me
do caminho de volta.
Não me lembro,
dei-to...
dei-me...
e já não volto mais.

sexta-feira, novembro 11, 2005

as sombras

Sempre pensei que as sombras são seres vivos,
presos a homens pouco humanos e a objectos sem alma.

Deve ser por isso que pensamos que o Mal,
(esse da letra e do medo maíusculo),
se esconde nas sombras.

Que ódio nos devem ter as sombras,
presas a nós que nada fazemos,
senão tapar a luz a que têm direito.

terça-feira, novembro 08, 2005

Mergulhar

Mergulhar.
Sentir que o mundo acaba,
imerso no imenso silêncio
do frio e infinito horizonte azul.
Deixar-me lentamente cair,
procurando o fundo invisível,
até que os pulmões parecem
rebentar e me lembram bruscamente
que eu não pertenço aqui.

Por isso vôo para a superfície,
onde não há nenhum azul assim,
onde não há nem paz nem silêncio,
mas onde está, infelizmente,
todo o oxigénio.

segunda-feira, novembro 07, 2005

rotina

Acorda
Come
Anda
Trabalha
Come
Trabalha
Anda
Come
Dorme

Todos os dias?
E se eu me apetecer
mandar-vos todos
todos à merda?
Não posso?
Então sejam voçês
essas tais pessoas.
Eu não quero.
Prefiro ser humano
e pensar por mim.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Um feriado

Que saudades que eu tinha
de acordar nos teus braços,
e chamar-te princesa,
e sentir-te mulher e minha.