quarta-feira, maio 09, 2007

Os carros passam silenciosamente, deixando tiras vermelhas de quando passam por mim. Vou de cara pendurada, olho as estrelas no gelado céu da noite de verão, penduradas, esperando, olhando silenciosamente os carros que passam.
A noite é um espelho, silencioso e escuro como alcatrão, muralhas de árvores impedem os olhos de se perderem na paisagem sem lua, a adrenalina escorre das colunas, a batida faz as respirações acelerar, faz o carro acelerar, faz o mundo acelerar.
Só eu, pendurado da janela, permaneço imóvel.
Todo o carro arde, sente-se o calor, a fúria inflamada faz todos no carro arder, só eu sinto o ar gelado que entre às golfadas pela janela aberta. Os lábios torcem-se nervosamente, as conversas são curtas, todos guardam cada grama da sua fúria, todos a atiçam, para que arda mais e mais e mais.
Porquê?
Serei mais calmo?
Mais velho?
Mais sábio?
Não, não sou melhor nem pior que estes corpos furiosos que acompanham o meu.
A minha fúria ardente, onde está, para onde foi, será que a perdi? Será que já não sou aquela chama de fúria, de calor e energia?
É nisto que penso quando o carro para subitamente, é este o meu verdadeiro medo, não a dor, não os outros, nunca, nunca os outros.
Todos saímos, e avançamos calmamente, e então reparo.
Já passei por isto antes, já sei onde estou, não mais estou perdido.
Não ardo de fúria.
Quem arderia estando aqui, num sitio familiar, rodeado do que conheces?
A minha fúria, se é que é fúria é gelada, temperada com um contentamento imenso, uma antecipação de quem volta de uma longa viagem e está em casa.
Vai começar.
Estou em casa.

4 comentários:

Cati disse...

Olá Vítor, passei aqui e deslumbrei-me com a tua capacidade de revelar emoção através da escrita... adorei!!!
Vou continuar a acompanhar...
Beijinhos com saudades (",)

Thata disse...

Tudo lindo.
Mas eu vim pela saudade =P

Beijos brasucas seu portuga!!
Tata =)

Anónimo disse...

Ficou um pouco confuso pra mim, sobre o que vc quis dizer na verdade....
Acabei me eprdendo em alguns momentos.... Mas dá para sentir que escreveu com sentimento.

Quanto ao comentário em meu blog, quanto ao amor, só sei dizer que sobre isso sei muito pouco. E o pouco que sei já me deixa confusa o suficiente para não querer saber mais.
O amor não é para ser entendido, apenas para ser sentido.

Um beijo!

Anónimo disse...

Gosto cada vez mais de te ler. Sim, porque te vou acompanhando...
Os poucos momentos de sossego que tenho, passo-os assim, em abalos de alma, pois não se pode ficar indiferente a maravilhosos jorros de expressão literária como são os teus...
Eva