domingo, junho 24, 2007

Quase.

Já quase me tinha esquecido a que sabe uma pele, qual o sabor do suor de alguém que adormece nos nossos braços, já nem mesmo o peso doce de uma colher cheia de luz a dormir encostada a mim passava senão de uma vaga memória.
Tentei navegar calmamente esses oceanos de memória, forcei os meus dedos a não tremer, acho que não tremeram, sei que se tremeram não me importo realmente.
Os teus caracóis repousam no meu ombro como se de vinhas numa parede partida se tratassem, pequenas trepadeiras sufocantes de vida numa pele muito marcada, onde deixaste a tua marca, pelo sim pelo não, só porque podias e passaste por lá, pequeno graffiti rasgado com a ponta da unha.
Só sei que estou vivo quando entro na cozinha, a luz das 6 da manhã, aquela luz que ainda nem é luz, é um embrião de luminosidade, atravessa o balcão de uma ponta à outra, bate-me na cara, entras e beijas-me o pescoço, roubas uma torrada e ris alto demais, olhando por cima do ombro na tua fuga pelo corredor.
Acho que vou chegar atrasado, já me esperam quando chego a casa, parto logo, sentado lá atrás, o mundo é ruído de fundo, até a luz se desvanece, não estou realmente no carro, estou a lembrar o momento, aquele exacto momento em que me lembrei do que quase tinha esquecido.
Quase.