terça-feira, outubro 16, 2007

trovoada

a adrenalina sobe, é ela o meu verdadeiro e único vício, a aquela corrida do sangue contra as paredes do corpo

sou de ferro, sou uma parede de carne e gritos que puxa os raios que rasgam o céu, sorrio como não sorrio sem os trovões, o prazer sobe o meu corpo, estou completamente eléctrico, a luz que ao meu lado conduz o carro olha-me como se fosse louco, meio de espanto, meio de medo

abro os braços para tentar caçar o vento, as minhas garras rasgam o tablier do carro da luz, apetece-me partir tudo, quero destruir alguém, preciso matar rapidamente, sentir o sabor salgado do sangue nos olhos

quero porque quero, sou verdadeiramente eu, agarro a chamada com as mãos a tremer, a voz dela diz-me que não haverá sexo hoje, o meu corpo quase explode a cada raio que parte o céu, a luz há muito caiu, mergulha a cidade na minha escuridão, tu e eu somos um só, cospes os teus raios pelos telhados

o vento trás o cheiro a chuva e eu estou parado na absoluta e completa escuridão, começam as lanternas e as velas a aparecer pelas frestas das janelas, cobardes medrosos, cortam as tuas dádivas com facas de luz, preciso gritar e afasto-me, o grito é rouco e trás mais noite, e mais escuridão e mais raios, e finalmente as lágrimas em forma de chuva

quero mais , mas ela passa e afasta-se, o vento fica com a chuva, mas sabe a pouco, quero mais raios, mais destruição, saborear um pouco mais o medo dos outros misturado com o meu prazer,
a luz volta e retiro-me, o corpo ainda treme

a trovoada parte, o sorriso idiota de quem acabou de amar, fica até de manhã