terça-feira, janeiro 16, 2007

no nevoeiro

Matava por um cigarro, a noite está gelada,
o nevoeiro abraça todas as formas, distorce a noite num abraço apertado,
forma pequenas lágrimas geladas no meu cabelo, na minha cara

As recordações rodeiam-me, neste caminho mal iluminado,
aproximam-se como lobos, vejo os seus olhos vermelhos no limite da luz
vejo as suas formas disformes, as suas presas esfomeadas e sorridentes

Muitas noites passadas aqui, neste nevoeiro gelado
escondido num portal escuro, afastado das luzes, afastado das almas.
espero a altura de abrir as grades, de soltar a torrente de raiva, a fome de sangue

As minhas mãos tremem, não tenho cigarros, o cabedal das luvas rangem suavemente
o vulto à minha esquerda respira o sinal combinado,
o resto dos vultos mexe-se suavemente, não têm olhos, só têm braços, só têm corpo

abro suavemente as grades, abandono a um canto a máscara
vejo o sangue cobrir-me os olhos, a cara, as mãos
e sento-me dentro de mim, sossegadamente, a ouvir o eco
dos barulhos soltos
no nevoeiro