quarta-feira, julho 30, 2008

são quatro da manhã e já devia estar a dormir
especialmente tendo em conta que ontem nem dormi
ou foi hoje que não consegui dormir
e é o sono de amanhã que me escapa entre os dedos?
nem sei, deixei de saber à um mar de horas atrás
afogo-me devagar no abraço metálico e pesado
da armadura de cansaço que tenho em cima

o peso dos membros é tanto que nem me mexo
sou um corpo morto com uma réstia fina de força
um fio gelado de pensamento que corre apesar, a pesar,
a arrastar tudo sem sequer me apagar finalmente
gota a gota a gota a gota
no esquecimento morno do sonhar

sei o acontecimento, sei o sintoma, sei a cura
falta-me o corpo suave que acompanha o meu sono
e na cama vazia o momento arrasta-se
escala o pensamento a pouco e pouco, lento demais
até o corpo esgotar e morrer e dizer finalmente
basta
e dormir com ou sem corpo, por mais vazia
que a escuridão de mel seja


sorrio amargo
desconfio que não vou dormir tão cedo

terça-feira, julho 08, 2008

não senão

não penso uma clara manhã de luz cortante
sem procurar a claridade dos teus olhos

não imagino amanhecer sem misturar
os teus cabelos soltos com os meus sonhos

não faço ideia de como será não te ver
passar por mim leve como uma pena descalça

não acredito como os teus dedos frágeis e leves
apagaram a minha realidade como quem vira uma página

não toco senão a suavidade da tua pele branca
em cada superfície que embate nos meus dedos

não faço outro desenho no ar à frente do meu rosto
senão o modo como o teu corpo curva na escuridão