segunda-feira, novembro 17, 2014

O sol, doente e lânguido, corta preguiçosamente o céu cinzento e enche a sala de vida e luz.
E ninguém repara. 
Pequenas partículas de pó dançam pelo ar, subindo e descendo as escadarias de luz dourada que se escapam pelas persianas.
As minhas palavras enchem a sala, tentando em vão competir com as lâminas cortantes de oiro que a invadem.
Longas correntes de fonemas penduram-se do tecto, como pequenas marionetas na luz do dia que morre e que dançam com as partículas de pele morta e respiração meio adormecida do meu público.   
O som da corrida para a porta liberta-me deste lento marasmo e caminho, seguramente feliz e aliviado, mas não por acabar finalmente, nunca por isso.
Mas por sair para a rua e ficar banhado, algumas dezenas de batimentos apenas, em oiro e calor.
Nada de vento.
Nada de frio.
Só muita, infinita luz. 

Que me entra pelos olhos e pelas mãos, atravessa galopante as minhas veias e sai em cascata, num longo e doloroso sorriso.  

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