O sol, doente e lânguido, corta preguiçosamente o céu
cinzento e enche a sala de vida e luz.
E ninguém repara.
Pequenas partículas de pó dançam pelo ar, subindo e descendo
as escadarias de luz dourada que se escapam pelas persianas.
As minhas palavras enchem a sala, tentando em vão competir
com as lâminas cortantes de oiro que a invadem.
Longas correntes de fonemas penduram-se do tecto, como
pequenas marionetas na luz do dia que morre e que dançam com as partículas de
pele morta e respiração meio adormecida do meu público.
O som da corrida para a porta liberta-me deste lento marasmo
e caminho, seguramente feliz e aliviado, mas não por acabar finalmente, nunca
por isso.
Mas por sair para a rua e ficar banhado, algumas dezenas de
batimentos apenas, em oiro e calor.
Nada de vento.
Nada de frio.
Só muita, infinita luz.
Que me entra pelos olhos e pelas mãos, atravessa galopante
as minhas veias e sai em cascata, num longo e doloroso sorriso.
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