segunda-feira, junho 19, 2006

digo-te adeus

digo-te adeus e beijo as árvores que tocaste

digo-te adeus e amo a relva que pisaste

digo-te adeus mudo no muro onde me mataste

digo-te adeus até os teus olhos voltarem

digo-te adeus para não ouvir resposta

digo-te adeus para que me arranhes o peito

digo-te adeus para que me arranques a cara

digo-te adeus para ouvir o eco do teu nome

digo-te adeus para não te poder mais beijar

digo-te adeus debaixo da lua de poeira dourada

digo-te adeus
e ponto final

sábado, junho 17, 2006

dúvidas em quadras

dança poeta dança,
enquanto a música não abala
p'ra casa da lua meia viva
que a bala matou o resto.

canta poeta canta,
que aqui ninguém te ouve
e se ouvisse que importava,
se nem mesmo tu importas.

olha poeta olha,
isso até tu aqui consegues,
nem eras menos que os outros,
só mais cego, só mais poeta.

grita poeta grita
até os pulmões te sangrarem
dessa ideia que ai corre perdida
de que sabes fazer mais que sangrar.

vive poeta vive
ah, disso já não és capaz!
de viver, e amar , e criar?
de ter a coragem de ser uno e real?

então morre, poeta, morre
que só sabes sonhar e escrever
e neste lugar não há já lugar
para quem se sonha e se sente.

sexta-feira, junho 02, 2006

nota de amor

nota de amor
para ninguém
em especial
só uma nota
escrita
com papel e tinta
e algum amor
para ninguém
em especial
só porque
me deu na cabeça
amar agora
e não está aqui
ninguém especial
que se deixe amar

menina dos olhos

menina dos olhos cansados
deixa-me embalá-los nos meus braços
e carregar os pesos nos meus ombros de pedra

menina dos olhos tristes
deixa-me arrancar as minhas mãos
para afogar as tuas lágrimas no meu sangue

menina dos olhos fechados
deixa-me cantar-te um sol novo
para encher de luz e calor a tua cara escondida

menina dos olhos castanhos
os teus poços são meus também
estamos os dois pegados pela linha do teu olhar