sexta-feira, setembro 30, 2005

A dor posterior

entro devagar para não te acordar
não quero que me vejas ainda
não quero que vejas que voltei
a fazer os mesmos erros

a água fria do duche acorda-me
leva com ela o calor da luta
e mostra-me ao pormenor
onde me vai doer amanhã

tento apagar todas as marcas
mas as manchas de sangue
custam sempre mais a sair
quando caem nas mãos

penso que deve ser herança
marca genética de Caim e Pilatos
acho graça e sorrio cuspindo
m pouco de sangue dos dentes

entro na cama devagar, já seco
para não acordares e me veres
mas quase choro quando
me abraças as costelas doridas

afundo-me nas almofadas
aliviado porque sei que consegui
vais acordar e pensar que durmo
e não me vais ver assim

4 comentários:

Sophia disse...

Ena pá, sim sr. Regresso em grande. Gostei sim senhor!! Adorei, mas quero mais!!! (ainda não te escapaste da sova,não!!!) eh eh eh

Anónimo disse...

Isto começa a perder o interesse, sr. poeta. Gosto mais de textos activos e contraditórios. Esta seca da porrada, todos sabem que nós temos esta tendência para dar (mais do que receber) porrada e gostamos. É genético. Que posso eu comentar neste poema? Não sou de letras!
A. Sobral

Heavenlight disse...

Respondendo aos comentários anteriores: concordo com a shootin': "EM GRANDE". pORQ

Heavenlight disse...

Concordo com a shootin': "EM GRANDE". Aqui leio a dor dos erros inconfessados, a consciência de algo que magoa mas não pode acabar porque... simplesmente porque não. Os nossos segredos, terríveis e simples segredos, será que nos definem? Seremos nós verdadeiramente aquilo que fazemos e pensamos quando o que fazemos e pensamos nos magoa a nós próprios mais do que a qualquer outra pessoa? E o escondermos uma faceta com a qual não concordamos de alguém que nos é querido... isto é real.
E é por ser real que tem interesse. E é por a realidade ser activa e contraditória que este texto também o é. Subjacente à dor física existe uma dor interior que resulta dessa mesma contradição.
Em suma: Mais um poema lindo que deve ser valorizado a partir da essência de cada um de nós, porque tenho a certeza que de uma forma ou deoutra nos toca a todos.
Continua!