terça-feira, dezembro 27, 2005

25

sento-me na mesa do café,
quieto,
à espera que me matem.

e nesta tarde aborrecida,
completamente banal,
nunca quis tanto viver.

nunca o café soube tão bem,
e cada vez que respiro
é como se respirasse ouro

já li o jornal três vezes,
fervo de ansiedade,
suo frio,
mas espero quieto.

nesta mesa do café,
à espera que se decidam
a atravessar a rua
e vir matar-me.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

8.37 am

Está tanto frio que o vento me corta a cara, as mãos, os olhos.
Não há nuvens, a luz derrama-se pura do céu de metal azul claro.
O vento enrola-se no meu cabelo, é como se só a minha face existisse,
como se só ela enfrentasse a manhã gelada.

Apenas o vento e eu caminhamos nesta manhã azul metálica,
e estou feliz assim, só nós na praia de pedra do passeio,
com um mar de alcatrão cheio de carros parados â esquerda
e os muros vivos de verde do jardim à minha direita.

Entro em casa já com o sabor a café a dançar na boca,
o jornal e o pão ficam juntos a fazer amor na mesa da cozinha,
a tinta fresca e o calor do pão fresco ainda se agarram à vida,
ainda permanecem nas pontas dos dedos, na ponta do nariz.

Abro as cortinas e deixo a luz vasculhar o quarto enquanto
me dispo e entro neste ventre de flanela azul metálico,
da côr do céu lá fora, ainda aquecido pela tua pele açucarada,
e ranges com a cama enquanto me deito e me tapo.

Rodas e os teus braços apertam-me o tronco, ainda ai estou,
só saí nos teus sonhos, e olho-te neste amanhecer azul metálico.
O despertador diz-me baixinho que tenho mais vinte e três minutos
até ele te arrancar daqui, do ninho dos meus braços.

Sinto a tua respiração compassada no meu peito, sobe-me pelo pescoço,
queima-me a cara, faz-me esquecer o tempo que passa, que se lixe o tempo,
o momento fica, este momento que é só meu. Meu e do vento que dança lá fora.
Como o meu coração, cada um no seu céu azul metálico.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

4 da manhã

Desculpa telefonar-te a estas horas
mas preciso que me salves desta escuridão
que fica na minha alma,
no meu corpo,
no meu quarto,
quando não estou contigo.

Era só porque precisava muito
de ouvir a luz na tua voz,
sentir o vapor do teu corpo,
o teu peito a subir e a descer
enquanto dormes nos meus braços.

Diz-me só boa noite,
para eu poder ir tentar dormir,
a pensar que se calhar estás aqui,
e ser feliz, a sonhar assim,
pelo menos até acordar.