Ando devagar, sei que aqui sou imparável, posso levar o tempo que quiser a navegar ruelas desertas e parques de estacionamento, esses poços que de dia nada são e que de noite são as arcas que guardam a verdadeira essência da escuridão, daquela podridão humana que nasce do acumular dos nossos medos.
Levo o máximo de tempo possível, só aqui a verdadeira canção do vento morre, embate nas paredes e revolve, julga-se solitário, este vento nocturno, ou então nem se importa comigo, importo-me eu com ele, atravessa-me os olhos, gela-me os lábios, passa-me as mãos pelo cabelo. Até ele sabe que sou imparável, sabe que me sinto um deus mortal, o sangue salta-me das veias, tenta sair-me pelos dedos.
O vento transporta o fogo dos meus olhos até ao céu, a fúria enrola-se num grito que não me sai da garganta, ressoa na minha cabeça enquanto a lua rasga as nuvens e ilumina o meu sorriso, leva com ela as pérolas de suor frio que me surgem na testa, espero pela chuva que não vai chegar nunca.
Entro num caminho largo, nem uma luz no horizonte, nem um candeeiro, sorrio porque sei que é este o meu caminho, é aqui que pertenço, os olhos de negro líquido olham-me como predadores esfomeados, apontam-me dedos de osso frio, tentam arrastar-me para fora do caminho, levar-me esperneando para os abismos.
E a chuva que não vai chegar nunca, dela tenho saudades, dos seus beijos cansados, caídos do céu como pequenas festas no meu cabelo, pequenos arrepios de vida a descer-me do cabelo para as costas, a fazer estradas de pele no pó que me cobre a cara. Mas sorrio enquanto desço a estrada escura, ergo a cabeça e sorrio, mostro ao que se esconde que sou eu quem vai caçar, que sou eu quem vai fazer sangrar, mostro que o predador sou eu.
Aqui, na escuridão, os meus olhos são brancos.
Aqui, na escuridão, sou mortal, não tenho medos, sangro fogo, estou em casa.
Levo o máximo de tempo possível, só aqui a verdadeira canção do vento morre, embate nas paredes e revolve, julga-se solitário, este vento nocturno, ou então nem se importa comigo, importo-me eu com ele, atravessa-me os olhos, gela-me os lábios, passa-me as mãos pelo cabelo. Até ele sabe que sou imparável, sabe que me sinto um deus mortal, o sangue salta-me das veias, tenta sair-me pelos dedos.
O vento transporta o fogo dos meus olhos até ao céu, a fúria enrola-se num grito que não me sai da garganta, ressoa na minha cabeça enquanto a lua rasga as nuvens e ilumina o meu sorriso, leva com ela as pérolas de suor frio que me surgem na testa, espero pela chuva que não vai chegar nunca.
Entro num caminho largo, nem uma luz no horizonte, nem um candeeiro, sorrio porque sei que é este o meu caminho, é aqui que pertenço, os olhos de negro líquido olham-me como predadores esfomeados, apontam-me dedos de osso frio, tentam arrastar-me para fora do caminho, levar-me esperneando para os abismos.
E a chuva que não vai chegar nunca, dela tenho saudades, dos seus beijos cansados, caídos do céu como pequenas festas no meu cabelo, pequenos arrepios de vida a descer-me do cabelo para as costas, a fazer estradas de pele no pó que me cobre a cara. Mas sorrio enquanto desço a estrada escura, ergo a cabeça e sorrio, mostro ao que se esconde que sou eu quem vai caçar, que sou eu quem vai fazer sangrar, mostro que o predador sou eu.
Aqui, na escuridão, os meus olhos são brancos.
Aqui, na escuridão, sou mortal, não tenho medos, sangro fogo, estou em casa.
2 comentários:
Lindo, como sempre! É óptimo esperar por cada texto novo e ter o prazer de ler estas coisas. ;) Beijinhos, tarte!
Como~eu adoro a tua prosa!
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