sábado, dezembro 30, 2006

pormenores 3

neste mundo de infinitas chamas semeadas
que a tua voz plantou neste meu caminho
pelas sombras me perdi, devagar, devagarinho

procurei sem olhar, sem ver, sem ouvir
neste nó de infinitos crepúsculos
um só amanhecer de perfeição construído

pelas pontas dos dedos me guiei
entre abraços espinhosos e beijos envenenados
até adormecer nas tuas asas negras

e de dentro dos teus olhos nasceu
essa luz perfeita que nasce da fé inabalável
de quem nunca viajou pela escuridão

segunda-feira, dezembro 18, 2006

pormenores 1















os meus olhos estão já habituados à ausência de luz no meu interior
e saudam todas as manhãs da minha vida com a mesma estranheza amedrontada
o meu sorriso são as barras que em mim prendem
todos os gritos, todas as lágrimas, todos os beijos

mas o pôr-do-sol, esse já me conhece bem
é um sonho que me arrasta
um chamamento imperfeito, feito de sons roubados ao dia
um empilhar de recordações

enrolo-me dentro de mim e adormeço
com um cobertor de escuridão melosa e fria
como um abraço de alcatrão gelado e amargo
como os meus sonhos realmente são

sexta-feira, dezembro 08, 2006

absolutos

Está um gelo absoluto nesta gloriosa e luminosa manhã, a luz corta-me a cara com as suas lâminas geladas, tento sair do teu abraço adormecido sem te trazer comigo para o dia, prefiro deixar-te adormecida, quente moldura de caracóis negros que me chama de volta para a cama, enquanto me arrasto para a água.
Já estou completamente acordado quando entro novamente no quarto, dentro de mim tenho já o cheiro a pão e café, tento ser absolutamente silencioso enquanto me mexo, beijo-te o pescoço para que me acompanhes, e saio para o exterior cinzento e cheio, para o mundo de barulho que me rodeia, bate-me na cara, quase que me magoa depois do silêncio, do nosso silêncio.
O frio abraça-me e puxa-me para os movimentos automáticos, acho que o filho da puta me conhece só de me ver sair, passo a língua pelos lábios e respiro fundo, guardo-te nesse enorme espaço que tenho dentro de mim, num canto escuro e confortável e parto, parto para as horas do apagamento.

Entro em casa e trago comigo o frio, tenho as mãos tão rijas que nem consigo desapertar os botões do casaco, quando começo a irritar-me a sério apareces do nada, como um vento quente que cheira a maçãs, beijas-me as mãos e tiras-me o casaco, estilhaças o gelo com o teu sorriso, acho que só sorrio por te ver sorrir, não me lembro sequer se antes sorria.
Sento-me e vejo-te voar, como um vapor de negros caracóis e oiço, pela primeira vez oiço verdadeiramente as primeiras palavras deste dia quase noite, e desenho-me de novo, tu desenhas-me de novo, depois das horas do meu apagamento.
De repente paras, como se te lembrasses de que estou ali, olhas-me e sorris, um sorriso largo como o horizonte, e eu sorrio de volta, puxo-te para mim e beijo-te o pescoço.

Não sei, acho que é este o meu absoluto.