Fico deitado, bem aconchegado na escuridão do quarto, o corpo ainda fervente das carícias da água, a respiração arrastando-se dificilmente pela garganta acima, cada movimento especificamente pensado para que a dor não desperte do seu torpor, essa serpente enrolada à volta da perna, dois rubis brilhantes na escuridão, a promessa de uma dentada de dor peçonhenta e pegajosa a pairar na escuridão do quarto.
No meio da escuridão, no meio da dor, penso em ti.
Penso em ti com a clareza gelada que só a dor nos oferece, meço as palavras ditas e as não ditas com um cuidado quase sistemático, enrolo bem a situação pelos dedos para a ver em toda a sua gloriosa banalidade, para que nem uma só luminescência doentia me escape. Simplesmente, nunca gostei de não compreender, de não saber.
Acabou porque abandonei o nosso plano.
É justo.
Era um bom plano, pensado entre os dois, pensado durante noites em que afogámos a solidão em incenso de maçã e vodka negro, os fumos do álcool e do incenso misturados viam mais claramente que nós dois juntos, é sempre assim, formula-se um bom plano e espera-se que seja seguído.
A realidade veio, qual brisa que sobe do rio, como a que entra agora pela janela do quarto e trás mais silêncio com ela, mais escuridão, essa brisa real limpou o fumo quente e adocicado que tínhamos, no qual nos enrolávamos, no qual nos despíamos nos dias de desespero e mergulhávamos nos braços um dos outro, e deixou apenas dois caminhos separados.
O nosso e o meu.
Escolhi o meu.
Como sempre.
Devia sentir a dor do amor perdido, mas sinto a alegria da estrada minha que me possui e que reconheço, devia sentir que te perdi, mas agora sinto a perna, sinto a dor natural das consequências, sinto vontade de me arrastar na direcção do vento.
Como sempre.
Sempre, sempre na direcção do vento.
No meio da escuridão, no meio da dor, penso em ti.
Penso em ti com a clareza gelada que só a dor nos oferece, meço as palavras ditas e as não ditas com um cuidado quase sistemático, enrolo bem a situação pelos dedos para a ver em toda a sua gloriosa banalidade, para que nem uma só luminescência doentia me escape. Simplesmente, nunca gostei de não compreender, de não saber.
Acabou porque abandonei o nosso plano.
É justo.
Era um bom plano, pensado entre os dois, pensado durante noites em que afogámos a solidão em incenso de maçã e vodka negro, os fumos do álcool e do incenso misturados viam mais claramente que nós dois juntos, é sempre assim, formula-se um bom plano e espera-se que seja seguído.
A realidade veio, qual brisa que sobe do rio, como a que entra agora pela janela do quarto e trás mais silêncio com ela, mais escuridão, essa brisa real limpou o fumo quente e adocicado que tínhamos, no qual nos enrolávamos, no qual nos despíamos nos dias de desespero e mergulhávamos nos braços um dos outro, e deixou apenas dois caminhos separados.
O nosso e o meu.
Escolhi o meu.
Como sempre.
Devia sentir a dor do amor perdido, mas sinto a alegria da estrada minha que me possui e que reconheço, devia sentir que te perdi, mas agora sinto a perna, sinto a dor natural das consequências, sinto vontade de me arrastar na direcção do vento.
Como sempre.
Sempre, sempre na direcção do vento.
3 comentários:
Gostei tanto que nem tenho palavras!
LINDO!
Magnífico, resplandescente, único, sensacional... mais não digo!
A vida prega-nos partidas um tanto ou quanto ingratas, mas se nós não arriscar-mos que vai ser de nós no futuro????
Escolhemos ser professores, e com essa descisão mudamos o nosso rumo num simples clique... hoje estamos perto de casa... amanhã longe... no futuro??? Quem sabe? Ninguém...
Temos de viver um dia de cada vez!Quem nos ama ficará sempre a nosso lado... acredita nisso!Sou casada à 4 anos!!!
Tudo de bom e até já!!
Existe aqui uma constância...
Não sei como fica isto de acordo com o acordo ortográfico.. enfim..
Beijinhos Grandes de Saudade para Ti, continuas um grande escritor.
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