quinta-feira, outubro 19, 2006

olho as tempestuosas mãos como se nelas residisse realmente a minha salvação, como se pudesse rasgar o celeste cobertor cinzento de chumbo derretido e arrastar-me para o escuro conforto que reside detrás do céu

acho que só mesmo a chuva que cai me salva, deve ser de estar tão encharcado, nem sei se tremo de frio ou de coragem, tenho tanto sentir acumulado que tremo quando ele sai, quando a chuva me escorre das pontas dos dedos e o vento me enrola e dança comigo

sou uma pedra que anda, sou uma estátua flutuante

e não sei realmente o que fazer quando a barragem rebenta, quando as lágrimas que das nuvens caem me entram pelos olhos e puxam as minhas para o ar frio, ambas se misturam e me gelam a cara, parece que choro facas e respiro espadas, parece que os meus pulmões se enchem do sangue que me gela no copo todo

sou uma pedra que parte, sou ...

sei lá eu o que sou

sou um gajo encharcado, gelado e partido, e só me quero meter num mundo de vapor e lágrimas quentes e confortáveis com que o chuveiro me vai envolver, assim que chegar a casa

e aí, nos teus abraços, não me importo de não existir

5 comentários:

Vanessa disse...

Aconteça o que acontecer, o que nós todos queremos mesmo é chegar a casa. Seja ela um lugar, um sentimento ou uma pessoa.

Comoveste-me.

;)

ananda disse...

Afinal ainda estás vivo e bem vivo!
Adorei o texto! Está lindo e muito forte, como sempre. Aliás acho que essa seria a descrição perfeita...
Vê se passas no Sentidos, nem que seja para dizer olá.
Beijinho grande!

A. disse...

Muito forte e lindo!...
Como sempre.... ADOREI!...
Bjs***

Ana disse...

a qualidade do texto é incomentavel, escreves com o coraçao nao com as maos!
Tudo o que é amor é assim, esquisito e possivel desde que seja nas maos amadas! quando amamos, somos!

Anónimo disse...

rsrs, esse vc já tinha me mostrado e eu já opinei!
Aguardo o ´próximo!
Beijos! :)