O céu é um borrão de tinta negra, um cobertor abafado que se arrasta lentamente sobre a cidade, sobre o peito das pessoas, tapa até a luz, até mesmo a luz se altera.
A trovoada arrasta-se preguiçosa, ela não tem pressa, altera o mundo à sua passagem, todos se escondem, todos parecem querer fugir-lhe, a cidade a meus pés esvazia-se lentamente.
É aquele medo gravado bem fundo nas nossas recordações, aquele medo muito humano que temos de tudo o que não controlamos, aquele medo que temos também das tempestades no mar e dos fogos na floresta. Um medo fundo, genético, comum.
Pois eu adoro esse medo, talvez tanto quanto adoro a trovoada.
Neste terceiro direito anónimo, apenas mais uma varanda escondida à vista de todos, tenho a vista desimpedida sobre a cidade, vejo-a fugir, esconder-se, e em alguns minutos as ruas estão vazias, cada num está em sua casa, protegido da promessa de chuva, escondido do medo.
Apenas eu oiço este silêncio, este vento sufocante, frio e abafado, que lambe a cidade antes do primeiro raio.
Mas antes o trovão. Sempre o trovão antes.
Ao ouvir o primeiro trovão o meu coração salta, todos saltam, porque não o meu também, mas o meu não salta só de medo, salta porque quer sair, ver os rasgões de branco eléctrico que rasgam o negro cobertor celeste.
A minha alma rasga-me desesperada o interior, também ela quer sair, mas a ela não posso deixar sair, se ela sai já não volta. Junta-se a este infinito chão de nuvens negras, vai-se derramar pela cidade, com a chuva que já promete cair a qualquer momento.
Olho o céu como uma criança, a minha prenda, a minha prenda está aqui, derrama medo, escuridão, lava a cidade, esvazia-a só para eu a olhar, só para eu a tempestade ficarmos os dois, sozinhos, apaixonados nesta varanda.
Estou feliz. Verdadeiramente feliz.
A trovoada arrasta-se preguiçosa, ela não tem pressa, altera o mundo à sua passagem, todos se escondem, todos parecem querer fugir-lhe, a cidade a meus pés esvazia-se lentamente.
É aquele medo gravado bem fundo nas nossas recordações, aquele medo muito humano que temos de tudo o que não controlamos, aquele medo que temos também das tempestades no mar e dos fogos na floresta. Um medo fundo, genético, comum.
Pois eu adoro esse medo, talvez tanto quanto adoro a trovoada.
Neste terceiro direito anónimo, apenas mais uma varanda escondida à vista de todos, tenho a vista desimpedida sobre a cidade, vejo-a fugir, esconder-se, e em alguns minutos as ruas estão vazias, cada num está em sua casa, protegido da promessa de chuva, escondido do medo.
Apenas eu oiço este silêncio, este vento sufocante, frio e abafado, que lambe a cidade antes do primeiro raio.
Mas antes o trovão. Sempre o trovão antes.
Ao ouvir o primeiro trovão o meu coração salta, todos saltam, porque não o meu também, mas o meu não salta só de medo, salta porque quer sair, ver os rasgões de branco eléctrico que rasgam o negro cobertor celeste.
A minha alma rasga-me desesperada o interior, também ela quer sair, mas a ela não posso deixar sair, se ela sai já não volta. Junta-se a este infinito chão de nuvens negras, vai-se derramar pela cidade, com a chuva que já promete cair a qualquer momento.
Olho o céu como uma criança, a minha prenda, a minha prenda está aqui, derrama medo, escuridão, lava a cidade, esvazia-a só para eu a olhar, só para eu a tempestade ficarmos os dois, sozinhos, apaixonados nesta varanda.
Estou feliz. Verdadeiramente feliz.
4 comentários:
Tão bom, ouvir a trovoada à janela, ou numa varanda, mas ali, a descoberto... nesses instantes de paz sentimo-nos soltos, felizes, com voz, em comunhão com essa ameaça de chuva e connosco próprios.
Mas tu teimas em escrever aquilo que eu sinto antes de eu me lembrar de o fazer!!! :))
Bonitas imagens. Muito fortes, muito apaixonantes...cheias de uma descarga energética que nos atrai e nos impele a continuar a ler-te sempre.
bjs Eva
Também eu adoro a trovoada... mas nunca tinh visto um descrição tão bonita como esta!
Bjs***
Adorei! Está um quadro autêntico!!! Parabéns!
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