quarta-feira, junho 08, 2005

Odeio as manhãs

Queria dedicar este texto aos meus amigos, em especial à Carla, à Claudia e ao Ed, que tantas manhãs como esta me aturaram em 5 anos. Um grande abraço para voçês.


Odeio as manhãs.
Mais uma noite sem dormir.
Daqui a umas horas, o Sandro vem buscar-me para irmos ao ginásio, vai fingir que não pareço um zombie, dizer umas piadas e aturar mais uma manhã de silêncio.
Vou entrar naquela passadeira idiota, virada para um espelho, e vou-me apagar completamete na corrida.
Vou-te apagar completamente.
Enquanto corro, nada mais existe. Sempre que a minha cabeça tenta funcionar, acelero. Vou acabar outra vez num ritmo estupidamente alto, com os gajos que estão nos pesos a afastarem-se de mim quando passo, totalmente rebentado, com aquele sorriso que os meus amigos chamam de tresloucado.
Não olho o espelho uma única vez, o único que não o faz no ginásio, deve ser por isso que assusto os outros. Mas eles não estão ali para se perderem e eu estou.
Eles não precisam.
Eles não se levantaram contigo na cama, no pensamento, no sonho. Uma cama onde não estás realmente, um pensamento onde só resta a tua sombra, sonhos onde habitas em momentos tão doces que só podem ser pesadelos.
A água do duche não apaga o cansaço, mas apaga a realidade.
Fazer o almoço, almoçar, vestir café.
Voltar à vida.
Para quê? Amanhã vou repetir tudo. Amanhã será esta manhã. É sempre, sempre, sempre a mesma manhã., todos os dias a mesma.
Odeio as manhãs.

3 comentários:

Tamia disse...

E parece tudo tão real, tão presente.
Todos os dias o mesmo.
Será que estas manhãs vão acabar?

Heavenlight disse...

Acabam. Quando nos desiludem tanto que temos de nos impedir de pensar para não nos vermos morrer em nós próprios. Espero bem que acabem. Acredito que sim.

Este texto reflecte uma realidade que não devia existir, mas que é doce e amarga e às vezes até sabe bem.

Sophia disse...

Obrigado pela dedicatória! Nãoe stava à espera, adorei! Agora comentando o que escreveste... Mas foram manhãs como estas que nos ficaram gravadas na memória e dão uma cor especial ao curso que já se acabou... Ui, há dois anos!!! Como estou a ficar velha!!! Podias vir de trombas, mas com jeitinho lá te tirávamos um sorriso ou um "ainda não me deitei" mais forçado!!! Com certeza que não me esquecerei dessas manhãs, apesar de quase adormeceres ao meu lado nas aulas... mas enfim, isso já é outra história!!! Adorei! Está muito bem escrito!!!