Os carros passam silenciosamente, deixando tiras vermelhas de quando passam por mim. Vou de cara pendurada, olho as estrelas no gelado céu da noite de verão, penduradas, esperando, olhando silenciosamente os carros que passam.
A noite é um espelho, silencioso e escuro como alcatrão, muralhas de árvores impedem os olhos de se perderem na paisagem sem lua, a adrenalina escorre das colunas, a batida faz as respirações acelerar, faz o carro acelerar, faz o mundo acelerar.
Só eu, pendurado da janela, permaneço imóvel.
Todo o carro arde, sente-se o calor, a fúria inflamada faz todos no carro arder, só eu sinto o ar gelado que entre às golfadas pela janela aberta. Os lábios torcem-se nervosamente, as conversas são curtas, todos guardam cada grama da sua fúria, todos a atiçam, para que arda mais e mais e mais.
Porquê?
Serei mais calmo?
Mais velho?
Mais sábio?
Só eu, pendurado da janela, permaneço imóvel.
Todo o carro arde, sente-se o calor, a fúria inflamada faz todos no carro arder, só eu sinto o ar gelado que entre às golfadas pela janela aberta. Os lábios torcem-se nervosamente, as conversas são curtas, todos guardam cada grama da sua fúria, todos a atiçam, para que arda mais e mais e mais.
Porquê?
Serei mais calmo?
Mais velho?
Mais sábio?
A minha fúria ardente, onde está, para onde foi, será que a perdi? Será que já não sou aquela chama de fúria, de calor e energia?
É nisto que penso quando o carro para subitamente, é este o meu verdadeiro medo, não a dor, não os outros, nunca, nunca os outros.
Todos saímos, e avançamos calmamente, e então reparo.
Já passei por isto antes, já sei onde estou, não mais estou perdido.
Não ardo de fúria.
Quem arderia estando aqui, num sitio familiar, rodeado do que conheces?
A minha fúria, se é que é fúria é gelada, temperada com um contentamento imenso, uma antecipação de quem volta de uma longa viagem e está em casa.
Vai começar.
Estou em casa.