entro devagar para não te acordar
não quero que me vejas ainda
não quero que vejas que voltei
a fazer os mesmos erros
a água fria do duche acorda-me
leva com ela o calor da luta
e mostra-me ao pormenor
onde me vai doer amanhã
tento apagar todas as marcas
mas as manchas de sangue
custam sempre mais a sair
quando caem nas mãos
penso que deve ser herança
marca genética de Caim e Pilatos
acho graça e sorrio cuspindo
m pouco de sangue dos dentes
entro na cama devagar, já seco
para não acordares e me veres
mas quase choro quando
me abraças as costelas doridas
afundo-me nas almofadas
aliviado porque sei que consegui
vais acordar e pensar que durmo
e não me vais ver assim
"Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos; Espalhei os meus sonhos debaixo dos teus pés; Caminha suavemente, pois caminhas sobre os meus sonhos." W.B. Yeats
sexta-feira, setembro 30, 2005
quarta-feira, setembro 21, 2005
três dias sem dormir
sete livros lidos
cento e setenta e duas
páginas escritas
cinco cadeiras acabadas
cinco horas de carro
para uma reunião
de vinte minutos
quarenta minutos a pé
para adormecer no teu sofá
com a cabeça no teu colo
sete livros lidos
cento e setenta e duas
páginas escritas
cinco cadeiras acabadas
cinco horas de carro
para uma reunião
de vinte minutos
quarenta minutos a pé
para adormecer no teu sofá
com a cabeça no teu colo
domingo, setembro 18, 2005
Acordar Primeiro
Odeio acordar nas manhãs
em que trabalhas e em que sais
mais cedo do que eu
Odeio que não me acordes
e que me deixes dormir
até o despertador tocar
Odeio tomar banho sozinho
e apagar com água fria
o beijo com que te despediste
Odeio especialmente passar
dois e três dias longe a trabalhar
sem te olhar nos olhos e tocar
porque assim me pareces um sonho
e fico com medo de voltar a casa
e perceber que te imaginei
Odeio especialmente não poder
acordar contigo nos meus abraços
apertar-te de mansinho e dizer,
enquanto ainda sonhas e não ouves,
cheirando o teu calor e o teu cabelo:
Sou teu, sempre, mesmo enquanto dormes.
em que trabalhas e em que sais
mais cedo do que eu
Odeio que não me acordes
e que me deixes dormir
até o despertador tocar
Odeio tomar banho sozinho
e apagar com água fria
o beijo com que te despediste
Odeio especialmente passar
dois e três dias longe a trabalhar
sem te olhar nos olhos e tocar
porque assim me pareces um sonho
e fico com medo de voltar a casa
e perceber que te imaginei
Odeio especialmente não poder
acordar contigo nos meus abraços
apertar-te de mansinho e dizer,
enquanto ainda sonhas e não ouves,
cheirando o teu calor e o teu cabelo:
Sou teu, sempre, mesmo enquanto dormes.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Devolvo-te
Devolvo-te as palavras
que me escreveste
pois sei que as sentes ainda
e a falta que te fazem
Devolvo-te os olhares
que me tentaste atirar
julgando talvez que eu
não fosse tão cego
Devolvo-te o teu coração
pois não o posso usar
porque nunca o quis
nem quando mo ofereceste
Devolvo-te as lágrimas
todas que usaste por mim
por culpas que eu
nunca soube ter tido
Devolvo-te principalmente
esse ódio cego e justo
que me guardas ainda hoje
por nunca ter dito sim
que me escreveste
pois sei que as sentes ainda
e a falta que te fazem
Devolvo-te os olhares
que me tentaste atirar
julgando talvez que eu
não fosse tão cego
Devolvo-te o teu coração
pois não o posso usar
porque nunca o quis
nem quando mo ofereceste
Devolvo-te as lágrimas
todas que usaste por mim
por culpas que eu
nunca soube ter tido
Devolvo-te principalmente
esse ódio cego e justo
que me guardas ainda hoje
por nunca ter dito sim
segunda-feira, setembro 05, 2005
Momentos Dourados
Resolvi finalmente publicar este texto depois de alguma reflexão, algo que espantará as pessoas que me conhecem , pois sabem que regra geral ajo por impulso. Mas como todas as boas ideias que tenho tido em termos de publicação de textos neste blog resultaram em eu ter de tentar explicar às pessoas que os meus textos não são ataques pessoais, mas impulsos de momento, tive de pensar um pouco.
Uns bons dois minutos.
Bom, aqui está.
Sou professor.
Sou talvez das poucas pessoas que sempre o quiseram ser.
Mas conheço muitas que amam verdadeiramente ensinar, ter uma turma que nos olha como os transmissores supremos de uma sabedoria quase mágica.
É quase uma droga.
Alguém que nunca ensinou não conhece o supremo prazer que é ensinar um aluno com dificuldades e vê-lo superá-las, ou encontrar uma aluna algum tempo depois e ouvir aquelas palavras para as quais todo o professor vive, "Ainda me lembro do que o professor me ensinou".
São esses momentos dourados que nos fazem superar as manhãs de segunda, as tardes de sexta, as reuniões com os pais, as intermináveis correcções de testes.
Momentos autenticamente dourados.
É por esses momentos que escrevo isto.
Eu escolhi o caminho mais díficil.
Nunca parar, ser melhor do sou.
Escolhi sair do meu país, estudar e falar noutra língua, para ser melhor professor.
Para ter mais momentos dourados.
Para que a minha sabedoria fosse ainda mais mágica.
Foi uma solução cobarde e cruel, agora que a vejo.
Passou uma semana desde que saíram as listas dos concursos.
A interminável espera acabara.
Seguiram-se as idas ao café, as conversas telefónicas e cibernéticas, quem ficou em que posição e à frente de quem, o normal.
O que vi deixou-me de rastos.
Não por mim, eu fui cobarde, eu tinha o que fazer, com que me ocupar.
Foi por ouvir na voz das pessoas, dos amigos, dos companheiros de profissão com quem falei uma desilusão e um desespero real.
Desespero.
Ver toda uma vida, dezassete anos no mínimo, de treino, deitada fora.
Não uma, mas duas gerações completamente perdidas, desesperadas.
Desilusão.
Nem mais um momento, nem mais um só segundo dourado.
E quando esses amigos se viram, as vozes tensas, algumas raivosas, outras embargadas, eu respondo com uma crueldade que me deixa mais triste ainda.
As coisas por lá correm-me bem, talvez fique por lá.
A minha voz some-se quando o digo, e nem tenho coragem de olhar as pessoas nos olhos.
Porque eu sei que estou a ser cruel.
Mas é dificil saber que não existem hipóteses.
É a desilusão.
É o desespero.
É o adeus aos momentos dourados.
Pergunto realmente se algum dia esta geração voltar ao ensino, conseguirá voltar a brilhar.
Ou será que também isso perdemos?
A capacidade de brilhar?
Espero que não, eu não seria capaz de carregar esse peso.
E vocês, seriam?
Uns bons dois minutos.
Bom, aqui está.
Sou professor.
Sou talvez das poucas pessoas que sempre o quiseram ser.
Mas conheço muitas que amam verdadeiramente ensinar, ter uma turma que nos olha como os transmissores supremos de uma sabedoria quase mágica.
É quase uma droga.
Alguém que nunca ensinou não conhece o supremo prazer que é ensinar um aluno com dificuldades e vê-lo superá-las, ou encontrar uma aluna algum tempo depois e ouvir aquelas palavras para as quais todo o professor vive, "Ainda me lembro do que o professor me ensinou".
São esses momentos dourados que nos fazem superar as manhãs de segunda, as tardes de sexta, as reuniões com os pais, as intermináveis correcções de testes.
Momentos autenticamente dourados.
É por esses momentos que escrevo isto.
Eu escolhi o caminho mais díficil.
Nunca parar, ser melhor do sou.
Escolhi sair do meu país, estudar e falar noutra língua, para ser melhor professor.
Para ter mais momentos dourados.
Para que a minha sabedoria fosse ainda mais mágica.
Foi uma solução cobarde e cruel, agora que a vejo.
Passou uma semana desde que saíram as listas dos concursos.
A interminável espera acabara.
Seguiram-se as idas ao café, as conversas telefónicas e cibernéticas, quem ficou em que posição e à frente de quem, o normal.
O que vi deixou-me de rastos.
Não por mim, eu fui cobarde, eu tinha o que fazer, com que me ocupar.
Foi por ouvir na voz das pessoas, dos amigos, dos companheiros de profissão com quem falei uma desilusão e um desespero real.
Desespero.
Ver toda uma vida, dezassete anos no mínimo, de treino, deitada fora.
Não uma, mas duas gerações completamente perdidas, desesperadas.
Desilusão.
Nem mais um momento, nem mais um só segundo dourado.
E quando esses amigos se viram, as vozes tensas, algumas raivosas, outras embargadas, eu respondo com uma crueldade que me deixa mais triste ainda.
As coisas por lá correm-me bem, talvez fique por lá.
A minha voz some-se quando o digo, e nem tenho coragem de olhar as pessoas nos olhos.
Porque eu sei que estou a ser cruel.
Mas é dificil saber que não existem hipóteses.
É a desilusão.
É o desespero.
É o adeus aos momentos dourados.
Pergunto realmente se algum dia esta geração voltar ao ensino, conseguirá voltar a brilhar.
Ou será que também isso perdemos?
A capacidade de brilhar?
Espero que não, eu não seria capaz de carregar esse peso.
E vocês, seriam?
Anúncio de Jornal
homem cansado procura mulher
com dicionário
e um tubo de super cola
que lhe cole o coração partido
e lhe ensine o que significa amar
com dicionário
e um tubo de super cola
que lhe cole o coração partido
e lhe ensine o que significa amar
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