terça-feira, maio 10, 2005

O Caminho Fácil

Sentado no café, estou só mas não sozinho.
Os casais na mesa falam sobre nadas importantes, as pessoas entram e saem, a música está lá, ocupando o seu lugar, no fundo do ruído.
Isto sozinho é mais fácil de passar.
Isto, o tempo, que é o que custa mais a passar.
Divago, a minha mente perde-se, o tempo voa.
Mas acompanhado a solidão instala-se, cresce lentamente, regada pelo alcóol e pelos sorrisos fáceis.
Mais uma apresentação, mais uma ovelha para o lobo. Será que a avisaram que seria a presa, que seria o sacrifício humano para me manter aqui sentado?
Duvido.
É fácil sorrir de volta, deixar os amigos com o alívio do dever cumprido.
Na mesa, o falso equilíbrio retorna. Só números pares, só casais. E aqui vou eu, sentir-me só enquanto falo com ela, (qual era o nome mesmo? será que me importa?), sentir-me frio enquanto finjo calor humano.
E aqui vou eu outra vez, em espiral descendente, pelo caminho mais fácil.

5 comentários:

Anónimo disse...

...estas certo...eu ja fui a ovelha...e nao sabia...e ja fui o lobo e nao me importei...
mais uma vez o realismo acorda quem te lê para a evidencia da verdade,...é deprimente...mas se a tua literatura produz efeito...entao man...estás la!!
deprime-me que eu gosto!
kina

Sophia disse...

Perdoa-me pela falta de originalidade do comentário, mas terás que me desculpar pelas poucas horas mal dormidas... Adorei!!! Apenas mudaria o título para "O caminho mais fácil". Tens um suceder de palavras e sensações, em especial para o fim do "poema" que é de reter o fôlego e ficar sem a lembrança que é necessário respirar... Será este texto fruto de noites mal dormidas? Está simplesmente lindo! De todos, é o texto que mais adorei. Faz lembrar uma letra do Pedro Abrunhosa, saliente por entre os suspiros de alguém que já há muito se esqueceu de sonhar...

Anónimo disse...

Não, realmente não estas sozinho. Somos todos umas ovelhas armadas em lobos que na verdade são ovelhas.
O tempo esse é ...um teste. E a solidão é ... a espera.

Quando estava a ler o teu post lembrei-me de algo de um livro que lera faz tempo, mas que me impressionou- «Nenhum Olhar», de José Luis Peixoto

Aqui vai:

«...Este silêncio de esperar inquieta-me. A última ovelha deitou-se junto aos corpos enrolados de outras debaixo do sobreiro grande. Penso: os homens são ovelhas que não dormem, são ovelhas que são lobos por dentro.»

beijos
Eva

Heavenlight disse...

Penso que o caminho mais fácil não será de todo o da solidão, pois é difícil estarmos sós connosco próprios e repensarmo-nos, redescobrirmo-nos, suportarmo-nos.
De qualquer forma, nunca estamos sozinhos. O nosso Eu é por vezes uma presença quase insuportável para nós. Sobretudo quando estamos no meio de muita gente que não nos diz nada, que nada tem para nos oferecer.
A mensagem do teu texto é muito verdadeira. Somos simultaneamente lobos e presas, manipuladores e manipulados, aranhas e moscas. E o mais absurdo é que temos consciência disso e muitas das vezes tentamos distorcer a realidade para continuar a jogar esse jogo, nem sabemos bem porquê.
Já reparaste que, quando nos sentimos invisíveis e sós, nos sentimos ao mesmo tempo uma presença forte, destacada e embaraçadora?

Anónimo disse...

ola vitor.tive aqui a cuscar o teu blog...é so pa dizer q gostei mto deste poema...bjinhos.fica bem